28 de julho de 2014

Coração Enganoso

O francês Blaise Pascal cunhou a notável frase: “O coração tem razões que a própria vida desconhece”.
Há um dito popular que diz: “coração de gente é terra que ninguém vai”.
O profeta Jeremias também disse: “Enganoso é o coração mais que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá” (Jeremias 17:9).
A história do profeta Jonas traz algumas nuances interessantes.
Segundo o profeta Naum, Nínive era uma “sanguinária, cheia de mentiras e roubo” (Naum 3:1).
Este profeta ainda a comparou a um “leão cruel e rapinante” (Naum 2:11-13).
Jonas foi chamado para pregar em prol da salvação dos ninivitas.
A história conta que Jonas relutou, foi em direção oposta, foi tragado por um grande peixe e acabou atendendo ao chamado de Deus.
Jonas pregou e o povo com fama de sanguinário se converteu.
Desde o seu rei até aos animais deram testemunho público de suas conversões (Jonas 3:5-10).
A mensagem de Jonas era que: “dentro de quarenta dias, Nínive será destruída” (Jonas 3:4).
A obra de Deus pela redenção dos homens tem colocado os juízos de Deus em muitas oportunidades como condicionais.
Nínive entendeu a mensagem e a maldade foi dissolvida pela graça.
Deus tinha alcançado seu propósito.
Jonas estaria então feliz pelos frutos? O pior é que não estava!
Jonas ficou chateado pela possibilidade de ser visto como falso profeta (ver Profetas e Reis, pág. 271).
Qualquer evangelista se sente emocionado ao ver pessoas aos pés de Cristo através de seu trabalho.
Mas este profeta, segundo a Bíblia (Jonas 4:3), preferiu morrer a presenciar a conversão daquele povo – mais de 120 mil pessoas.
Deus foi bondoso e o povo de Nínive se humilhou – até seus animais.
Jonas estava sendo incoerente.
Deus tinha sido misericordioso com ele e, agora, não poderia ser com os ninivitas?
O próprio Jonas reconheceu a misericórdia de Deus em sua oração nas entranhas daquele peixe (ver Jonas 2:8).
Deus então pergunta: “É razoável esta tua ira?” (Jonas 4:4).
Deus desejava que Jonas reconsiderasse o seu descontentamento.
Sabemos que a natureza é o segundo livro de Deus e o mesmo deixou que a mesma ensinasse a Jonas a lição.
Jonas deixou a cidade de Nínive, construiu por suas mãos um abrigo e ali repousou.
O abrigo de Jonas era vulnerável. O sol consumia-lhe o conforto.
Nossas próprias provisões são vulneráveis, aí vem o sol da dificuldade, da provação e só aí descobriremos que as obras de nossas próprias mãos são insuficientes e limitadas.
Então “o Senhor fez nascer uma planta” (Jonas 4:6). Alguns comentaristas acreditam que era um pé de abóbora.
Aquela planta visaria dar o suporte à vulnerabilidade do abrigo de Jonas, mas a lição estaria ainda por vir.
Deus miraculosamente fez a planta crescer.
Jonas não a havia plantado, mas a planta estava lá.
Seu objetivo era diminuir o seu pesar com o frescor da sombra e Jonas ficou feliz.
Ficamos felizes quando as coisas acontecem para o nosso próprio benefício.
Mas no outro dia veio um verme (lagarta) que atacou a planta e a mesma morreu (Jonas 4:7). Ainda veio um vento quente que aflorou em Jonas novamente o desejo de morrer (Jonas 4:8). Convenhamos, querer morrer por um pé de abóbora!
À sombra da planta que ele não tinha plantado e que representa a graça de Jesus, Jonas estava deleitoso e feliz.
A mesma ideia ele não tinha quando o assunto era a “graça” aos ninivitas.
O verme, que representa o pecado, feriu a planta e a secou – abstendo a graça.
Os pecados dos ninivitas, trouxeram-lhes juízos de morte, separando-lhes de Deus – a Graça.
Vejamos que as histórias de Nínive e da planta eram a mesma.
A diferença é que Jonas pensava diferente a respeito de cada uma, embora tivesse a mesma reação – o desejo de morrer.
Deus traz a mesma pergunta, outrora feita no primeiro “chilique”.
Deus inteligentemente volta a perguntar: “É razoável esta tua ira?” (Jonas 4:9).
Em outras palavras, Deus queria saber se fazia sentido ele ficar zangado com a morte de uma planta que não tinha plantado e que teve um fim esperado.
Qualquer resposta o condenaria.
Se a resposta fosse não (a que deveria ter sido) ele estaria admitindo que não lhe cabia estar envolvendo com assuntos da esfera de quem tinha plantado a planta e que Deus dá os juízos que deseja às suas criaturas.
Se a resposta fosse sim (a que foi) ele estaria admitindo que Deus poderia também fazer o que bem entendesse com Nínive, pois esta cidade estava no coração de Deus e valia muito mais que uma planta. Assim como a existência da planta era motivo da preocupação de Jonas, Deus também se preocupava com Nínive.
O amor de Deus é imenso pela humanidade a ponto de dar o seu próprio filho.
Não podemos cair na armadilha de sermos exclusivistas, egocêntricos e desfocados.
Jonas só sentiu o pesar da destruição quando foi envolvido o seu interesse.
Nossos interesses não são maiores que o de Deus.
Nossas razões são um grão de areia no oceano da graça da salvação.
Temos acumulado tanto lixo em nossa alma: angústias, decepções, ressentimentos, picuinhas.
Esse "lixo da alma" é composto de amarguras acumuladas, emoções distorcidas, raciocínios equivocados, conclusões apressadas, sentimento de culpa, complexo de inferioridade, desejos inconfessos e pequenas negligências.
Se temos acumulado estas coisas, estamos em perigo.
O lixo na alma prejudica a nós mesmos, prejudica as pessoas com quem relacionamos e prejudica nosso relacionamento com Deus.
Se não tivermos em nosso coração espaço para a compaixão e misericórdia, jamais seremos testemunhas verdadeiras e poderosas.
Se Deus nos tratasse da mesma maneira como estamos tratando o nosso próximo estaríamos perdidos.
Eu quero repetir as palavras de Baptist Herald: "Olhemos para dentro de nós com contrição. Olhemos ao nosso redor com compaixão. Olhemos para trás com gratidão. Olhemos para a frente com esperança. Olhemos para cima com louvor."
Não coloquemos a frente de nossa vida espiritual as nossas razões, os nossos interesses, o nosso coração.
Mas a melhor notícia é a que lhe darei: é este mesmo coração corrupto e enganoso que Deus deseja neste momento.
Ele sabe que nosso coração, embora corrupto e enganoso, procedem as fontes da vida (ver Provérbios 4:23).

Ele te diz agora: “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos” (Provérbios 23:26).

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