O francês Blaise Pascal cunhou a notável
frase: “O coração tem razões que a própria vida desconhece”.
Há um dito popular que diz:
“coração de gente é terra que ninguém vai”.
O profeta Jeremias também disse:
“Enganoso é o coração mais que todas as
coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá” (Jeremias 17:9).
A história do profeta Jonas traz
algumas nuances interessantes.
Segundo o profeta Naum, Nínive
era uma “sanguinária, cheia de mentiras e roubo” (Naum 3:1).
Este profeta ainda a comparou a
um “leão cruel e rapinante” (Naum 2:11-13).
Jonas foi chamado para pregar em
prol da salvação dos ninivitas.
A história conta que Jonas
relutou, foi em direção oposta, foi tragado por um grande peixe e acabou
atendendo ao chamado de Deus.
Jonas pregou e o povo com fama de
sanguinário se converteu.
Desde o seu rei até aos animais
deram testemunho público de suas conversões (Jonas 3:5-10).
A mensagem de Jonas era que: “dentro
de quarenta dias, Nínive será destruída” (Jonas 3:4).
A obra de Deus pela redenção dos
homens tem colocado os juízos de Deus em muitas oportunidades como
condicionais.
Nínive entendeu a mensagem e a
maldade foi dissolvida pela graça.
Deus tinha alcançado seu
propósito.
Jonas estaria então feliz pelos
frutos? O pior é que não estava!
Jonas ficou chateado pela
possibilidade de ser visto como falso profeta (ver Profetas e Reis, pág. 271).
Qualquer evangelista se sente
emocionado ao ver pessoas aos pés de Cristo através de seu trabalho.
Mas este profeta, segundo a
Bíblia (Jonas 4:3), preferiu morrer a presenciar a conversão daquele povo – mais
de 120 mil pessoas.
Deus foi bondoso e o povo de
Nínive se humilhou – até seus animais.
Jonas estava sendo incoerente.
Deus tinha sido misericordioso
com ele e, agora, não poderia ser com os ninivitas?
O próprio Jonas reconheceu a
misericórdia de Deus em sua oração nas entranhas daquele peixe (ver Jonas 2:8).
Deus então pergunta: “É razoável esta tua ira?” (Jonas 4:4).
Deus desejava que Jonas
reconsiderasse o seu descontentamento.
Sabemos que a natureza é o
segundo livro de Deus e o mesmo deixou que a mesma ensinasse a Jonas a lição.
Jonas deixou a cidade de Nínive,
construiu por suas mãos um abrigo e ali repousou.
O abrigo de Jonas era vulnerável.
O sol consumia-lhe o conforto.
Nossas próprias provisões são
vulneráveis, aí vem o sol da dificuldade, da provação e só aí descobriremos que
as obras de nossas próprias mãos são insuficientes e limitadas.
Então “o Senhor fez nascer uma planta” (Jonas 4:6). Alguns comentaristas
acreditam que era um pé de abóbora.
Aquela planta visaria dar o
suporte à vulnerabilidade do abrigo de Jonas, mas a lição estaria ainda por
vir.
Deus miraculosamente fez a planta
crescer.
Jonas não a havia plantado, mas a
planta estava lá.
Seu objetivo era diminuir o seu
pesar com o frescor da sombra e Jonas ficou feliz.
Ficamos felizes quando as coisas
acontecem para o nosso próprio benefício.
Mas no outro dia veio um verme (lagarta)
que atacou a planta e a mesma morreu (Jonas 4:7). Ainda veio um vento quente
que aflorou em Jonas novamente o desejo de morrer (Jonas 4:8). Convenhamos,
querer morrer por um pé de abóbora!
À sombra da planta que ele não
tinha plantado e que representa a graça de Jesus, Jonas estava deleitoso e
feliz.
A mesma ideia ele não tinha
quando o assunto era a “graça” aos ninivitas.
O verme, que representa o pecado,
feriu a planta e a secou – abstendo a graça.
Os pecados dos ninivitas,
trouxeram-lhes juízos de morte, separando-lhes de Deus – a Graça.
Vejamos que as histórias de
Nínive e da planta eram a mesma.
A diferença é que Jonas pensava
diferente a respeito de cada uma, embora tivesse a mesma reação – o desejo de
morrer.
Deus traz a mesma pergunta,
outrora feita no primeiro “chilique”.
Deus inteligentemente volta a
perguntar: “É razoável esta tua ira?”
(Jonas 4:9).
Em outras palavras, Deus queria
saber se fazia sentido ele ficar zangado com a morte de uma planta que não
tinha plantado e que teve um fim esperado.
Qualquer resposta o condenaria.
Se a resposta fosse não (a que
deveria ter sido) ele estaria admitindo que não lhe cabia estar envolvendo com
assuntos da esfera de quem tinha plantado a planta e que Deus dá os juízos que
deseja às suas criaturas.
Se a resposta fosse sim (a que
foi) ele estaria admitindo que Deus poderia também fazer o que bem entendesse
com Nínive, pois esta cidade estava no coração de Deus e valia muito mais que
uma planta. Assim como a existência da planta era motivo da preocupação de
Jonas, Deus também se preocupava com Nínive.
O amor de Deus é imenso pela
humanidade a ponto de dar o seu próprio filho.
Não podemos cair na armadilha de
sermos exclusivistas, egocêntricos e desfocados.
Jonas só sentiu o pesar da
destruição quando foi envolvido o seu interesse.
Nossos interesses não são maiores
que o de Deus.
Nossas razões são um grão de areia
no oceano da graça da salvação.
Temos acumulado tanto lixo em
nossa alma: angústias, decepções, ressentimentos, picuinhas.
Esse "lixo da alma" é
composto de amarguras acumuladas, emoções distorcidas, raciocínios equivocados,
conclusões apressadas, sentimento de culpa, complexo de inferioridade, desejos
inconfessos e pequenas negligências.
Se temos acumulado estas coisas,
estamos em perigo.
O lixo na alma prejudica a nós
mesmos, prejudica as pessoas com quem relacionamos e prejudica nosso
relacionamento com Deus.
Se não tivermos em nosso coração
espaço para a compaixão e misericórdia, jamais seremos testemunhas verdadeiras
e poderosas.
Se Deus nos tratasse da mesma
maneira como estamos tratando o nosso próximo estaríamos perdidos.
Eu quero repetir as palavras de Baptist
Herald: "Olhemos para dentro de nós com contrição. Olhemos ao nosso redor
com compaixão. Olhemos para trás com gratidão. Olhemos para a frente com
esperança. Olhemos para cima com louvor."
Não coloquemos a frente de nossa
vida espiritual as nossas razões, os nossos interesses, o nosso coração.
Mas a melhor notícia é a que lhe
darei: é este mesmo coração corrupto e enganoso que Deus deseja neste momento.
Ele sabe que nosso coração,
embora corrupto e enganoso, procedem as fontes da vida (ver Provérbios 4:23).
Ele te diz agora: “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus
olhos se agradem dos meus caminhos” (Provérbios 23:26).
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