Talvez você nunca ouviu falar de
Jefté.
Jefté era filho de Gileade, homem
influente, que mais tarde emprestaria o seu nome àquela cidade.
Gileade tinha uma família com
esposa e filhos, tinha posses e propriedades.
Naquela época era comum ter
muitos filhos, portanto Jefté tinha muitos irmãos.
Mas algo marcava negativamente a
vida de Jefté.
Sua mãe não era a mesma de seus
irmãos, seu nascimento foi fruto da infidelidade de seu pai.
E, para piorar, sua mãe era uma prostituta.
Gileade, embora infiel em sua
atitude, reconhece que o filho não pode ser vítima de seu erro, então decide
obter a guarda deste filho.
Jefté então passa a ser criado
por seu pai, mas algo não parece normal.
O Cotidiano de Jefté
Seus irmãos parecem não dar
importância para Jefté. Este passa a conviver com as piadinhas, gracejos e
rejeição de seus irmãos.
Jefté, por ser minoria, também é
explorado por seus irmãos.
É neste ambiente sufocante que
Jefté passa a sua infância e adolescência. Imagine os traumas a palpitarem em
sua mente por uma origem que o mesmo não escolhera para si.
A falta de apoio familiar, uma
origem vergonhosa – Jefté era um suicida em potencial.
Para piorar ainda, chega o dia da
morte de seu pai.
A herança precisa ser dividida, quem
sabe agora Jefté pode ter um futuro melhor.
Mas não é isto que acontece.
Jefté não recebe nada daquilo que tem direito e ainda é expulso de casa, sob a
justificativa de ser filho de outra mulher (verso 2).
Filho de prostituta, sem pai,
rejeitado pelos irmãos, cheio de traumas, desprovido de seus direitos legais.
Muitos, quem sabe, se sentem tão
desprovidos neste mundo, querem dar fim às suas vidas, por menos do que este
homem viveu e sentiu.
Jefté em Tobe
Ao invés de dar fim à vida, Jefté
foi para a cidade de Tobe, cerca de 80 km de Gileade.
Como não bastasse, lá encontrou
Jefté más companhias, homens desocupados, preocupados apenas em assuntos de
guerras.
Com um passado não honroso, com
um presente desmotivador, o que esperar do futuro de alguém assim.
Sem Deus o nosso futuro não tem
perspectiva.
Quem sabe não temos tantos
atributos negativos como teve Jefté, mas sem Deus não podemos sonhar tantas
maravilhas.
O Cotidiano de Israel
Mudemos um pouco o foco de nossa
história.
Gileade era uma cidade integrante
de Israel.
Israel, há quase 20 anos, vinha
amargando uma triste história de idolatria.
Muitos acham que Deus vira as
costas, mas somos nós que o ignoramos.
Os líderes eram homens escolhidos
sob o crivo de Deus.
Mas uma vez o povo O ignorava, já
não era necessário líder e o povo se afundava mais e mais em seus pecados, em
sua adoração à Baal.
Baal era o deus da imoralidade.
Era o deus da fertilidade e Israel era uma sociedade agrícola. Quase todos
adoravam – estava na moda. Era a garantia de bem-estar, segurança financeira e
social. Podia ser influenciado. E a adoração podia ser repartida com outros
deuses.
Afundar no pecado traz marcas
terríveis.
O pecado nos deixa vulneráveis.
Sem líder, sem base espiritual,
sem o poder de Deus, o povo de Israel passou a ser presa fácil à subserviência
dos amonitas.
Temos um Deus que não permanece
calado por muito tempo.
O Espírito de Deus trabalhou no
coração dos anciãos de Gileade a fim de que resgatassem a necessidade de terem
um líder.
Seria a única maneira de erguer
um estandarte contra a idolatria, os pecados e opressão dos amonitas.
E é justamente neste ponto que os
relatos se fundem.
O Encontro
Os anciãos foram tocados que este
líder deveria ser Jefté.
Sua fama de batalhador e vencedor
transcorria a região.
Eis que foram à procura de Jefté.
Acredito que o traumatizado Jefté
deva ter se assustado com a presença daqueles homens.
Será que vinha mais opressão?
Mas para a sua surpresa, era um
solene convite: “Venha ser nosso chefe” (verso 6).
Acho que Jefté deva ter pedido
para repetir a fala, pois o mesmo não estava entendendo nada.
Ao recebermos convites desta
natureza, geralmente agradecemos e expressamos o lisonjeio, mesmo que não
venhamos aceitar.
Mas após repetirem aquelas
palavras, Jefté derramou toda a carga negativa que o entalava.
Desabafou: “vocês me
traumatizaram, acabaram com minha auto-estima, me rejeitaram, me despojaram e
me expulsaram. Hoje não tenho pátria, sobrenome, história. Agora que sou bem
sucedido, vencedor e que vocês estão em aperto é que querem que eu seja líder.
Ou é por interesse, ou isso deve ser uma armação para que eu venha até morrer!”
O convite foi mais uma vez
estendido, um convite emoldurado de reconhecimento, quebrantamento, de
sinceridade, de reparação.
“É por seu sucesso que queremos
você, nós erramos, te prejudicamos e queremos o seu perdão”.
Não importa o tamanho da
atrocidade que cometemos, temos que reconhecer e pedir perdão.
Jefté, traído no passado, sem
querer ainda acreditar, pergunta se é mesmo o que ele havia entendido.
Os anciãos então juram diante de
Deus pelo cumprimento daquela palavra.
Um Exemplo Para Nós
Temos aqui a história de alguém
que sofreu por muito tempo, mas que permitiu o trabalho de Deus em seu coração.
Para ser um vencedor, Jefté teve
que conquistar primeiramente uma vitória em seu próprio coração.
Depois, conquistar a vitória em
suas atitudes. Era feliz e bem sucedido, mesmo em meio à dor, ao ressentimento.
Aquele convite não era à toa.
Mesmo vivendo na pobreza, longe
de sua terra, convivendo com pessoas desleais, seu coração manteve-se
inabalável nas mãos do Senhor.
Esta é a prova viva de que Deus
pode suster-nos e transformar as situações de nossa vida.
Jefté não parou para lamentar a
sua sorte, mas agiu a fim de transformá-la.
Quem quiser conhecer mais sobre o
sucesso de Jefté, leia a continuidade do livro de Juízes, mas destacaremos as
seguintes atitudes práticas:
a)
Cultivou o perdão;
b)
Desgarrou-se da mediocridade;
c)
Era corajoso;
d)
Vivia em constante preparo;
e)
Era ocupado;
f)
Nunca deixou de invocar o nome de Deus.
É por isso que Paulo não deixa de
incluí-lo na grande galeria dos heróis da fé (Hebreus 11:32).
Conclusão
Deus precisa hoje de pessoas que
copiem o exemplo de Jefté.
Pessoas que se libertem do poder
da culpa, que tenha a autoestima elevada e cultive em seu coração um espírito
perdoador.
Pessoas que mesmo em meio à dor e
ao sofrimento possam buscar a Deus.
Pessoas que sejam capazes de sair
do anonimato e realizar grandes proezas em nome do Senhor, nosso Deus.
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